Apresentação

        Eu aprendi cedo a simpatizar com os museus, mas só entendi de verdade o que era uma exposição em 2009, quando o CCBB organizou a Virada Russa. Eu estava gostando muito de estudar história da arte na faculdade (arte moderna!) e o professor falou que era uma exposição imperdível. Pela primeira vez eu tive a experiência de ir ao museu com conhecimento de causa, enxergar uma ordem por trás daquele monte de quadro. Mas não foi muita, não. Eu nunca tinha pensado sobre a identidade regional da arte russa, achava que Kandinsky ficava na mesma categoria que Mondrian. Eu não conhecia a maioria daqueles artistas, não conhecia as diferenças sutis que a exposição mostrava no passar dos anos e das perspectivas estéticas. Aquilo tudo me deixou bobo. 


        Quando veio a exposição sobre o Impressionismo: Paris e a modernidade, eu estava mais preparado. Guardei a expectativa com muitos meses de antecedência e esperei quase duas horas na fila. Aquilo eu entendia melhor, era modernismo francês, Monet, Baudelaire, Haussmann. Mas de novo eu fiquei bobo. Bobo com aquele monte de quadro que insistia em ser tão diferente dos modelos pictóricos que eu tinha assimilado. De repente apareceu um mundo inteiro que eu nunca tinha visto entre Monet e Gauguin, e Toulousse-Lautrec, e Pissarro, e Rousseau... Eu não entendia por que aqueles quadros tão ordinários, tão secundários na história da arte, tão pouco revolucionários me causavam uma impressão tão forte. Mas eu nunca mais esqueci a platéia que amarelou no teatro, logo na entrada da exposição. Não esqueci o risco dos trens da estação Luxembourg, nem o  sorriso misterioso da pálida mulher na rua e nem a perspectiva esquisitíssima daquela banquinha na frente do Sacré-Coeur em construção

         Eu voltei algumas vezes à exposição e fiquei triste quando se aproximava o seu final. Primeiro porque eu tinha desenvolvido uma relação afetiva com as obras, sim. Mas também porque eu queria conhecer mais o modernismo parisiense para descobrir ainda mais coisas por trás daqueles quadros. E daí me veio essa ideia de catalogar as obras com imagens, pra que elas não desaparecessem da minha vida junto com a exposição. Eu resolvi guardar esse registro em um blog a onde eu poderia retornar sempre que quisesse para rever alguma obra (coisa que fiz muito) ou aprofundar a minha pesquisa sobre o tema (coisa que não fiz). Quando fiquei sabendo que uma nova parceria com o museu d'Orsay traria uma exposição sobre o pós-impressionismo decidi na hora que repetiria o mesmo exercício, desta vez de forma mais completa. 

        Uma exposição é um mundo inteiro que se organiza ao redor de um tema, onde a imaginação passeia livremente. Ela só existe por um breve período de tempo até que as obras voltem para os acervos de origem e o trabalho de curadoria desapareça em meio a documentos museológicos. A perspectiva que ela nos fornece permanece viva enquanto ideia, mas sua força vital depende do contato com as obras e do exercício de reflexão. Este blog é uma tentativa de contribuir para essa vida. Ele não substitui de maneira nenhuma a experiência direta das obras, mas pode alimentar o fogo que nasce com ela.

         Por fim, acredito que um espaço como este tenha também um valor documental bastante particular. Ele não registra apenas a existência de determinadas obras, mas o gesto do espírito que as aproxima e organiza. O interesse por um determinado tema  da história da arte (que seja o pós-impressionismo ou a autonomia das cores) ganha bases mais sólidas - é o motivo pelo qual as exposições sempre despertam o desejo de conhecer mais. Assim, além da realização de um interesse pessoal, gostaria que ele pudesse servir de apoio para estudantes e curiosos que também compartilhem do meu interesse.

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